18.5.10

menor, redondilha menor.

a cerca das horas,
os rumores doces,
amargam se choras,
se rires são flores,
no sorrir que moras.

a cerca das horas,
circunda o jardim
o eu que devoras

um mundo sem fim
com tuas demoras
no tempo qu'as horas
te levam de mim.

19.12.09

Por minha infindável partida

Ascendo ao mais doce ar primaveril,
Folhas mortas que deixam o chão mais terno,
São o tumulo esverdiado do inverno,
São o rastro deste belo, porém vil.

Descendo da terminação carbônica,
Circulações e nervos oxidados,
Aperto contra os dedos atrofiados,
Flores mortas da primavera harmônica.

E em cada gole dos pés contra o solo,
Passadas graves no rosto da vida,
Pés sujos com os quais seu rosto esfolo.

E em cada florir vejo a despedida,
Em cada ramalhete o desconsolo,
Por meu ar, passos, por minha partida...


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14.12.09

Orbitário

Durmo, e em meu sono já tão pesado,
Meto as órbitas contra os céus das pálpebras.
E indolente, vou com palavras naufragas
do mar de mim a além do céu trincado.

Durmo, mas meu descanso já me cansa
Ao marasmo das horas encrespadas.
Meio a luta que travo sem espadas,
Sem escudos contra a minha alma mansa.

Durmo, mas quem repousa além de mim?
Quem pousa o aval do sim, o amém?
Quem permite seja um meio fim?

Aquem. - durmo além dos meus medos.
Longe: Da órbita dos meus pensamentos,
Da gravidade longinqüa dos dedos.


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4.10.09

Intempérie

Sete passos e sete sombras minhas.
um arvoredo, um banco de madeira,
e sentado, no topo da ladeira:
- sete passos e sete sombras tinhas.

Céu rasgado, um veio de nuvem preta.
olhos pesados como tempestade,
escuros, como a tarde que se invade
de chuva. vôo de escura borboleta.

amargor, em cada gota amornada
pelo sol, já cansado e sonolento,
segue lento, sob a chuva encrespada.

n'um instante de vento turbulento,
eis que encontro a borboleta rasgada
pela força do negro firmamento.